Uma pequena praça no bairro do Pari, em São Paulo, reúne a essência de um país inteiro. Todos os domingos, a Praça Kantuta deixa de ser apenas um logradouro paulistano para se transformar num pedaço da Bolívia. Para os mais de 200 mil descendentes que vivem na capital paulista, a feira é uma oportunidade para se encontrarem, se divertirem e viverem um pouco dos costumes de seu país.
O som das flautas andinas, os rostos morenos e os olhos levemente puxados, as típicas cholas com seus bebês pendurados nas costas, as conversas e cartazes em espanhol e o aroma das salteñas são os primeiros indícios de que somos estrangeiros há poucos metros da estação Armênia do metrô.
Nas décadas de 80 e 90, São Paulo recebeu uma imigração em massa de bolivianos, que se estabeleceram nos bairros do Brás, Pari, Bom Retiro e Canindé para trabalhar nas fábricas de outro povo imigrante, o coreano, que conquistou o mercado têxtil na capital. A Praça Padre Bento tornou-se um ponto de encontro de bolivianos em busca de oportunidades de sobrevivência fora das oficinas de costura. A primeira barraquinha de anticuchos (coração de boi no espeto) foi questão de tempo. Desde então, não parou de chegar gente.
Em 2000, a prefeitura procurou os imigrantes para que estes se organizassem e procurassem um novo ponto de encontro. Surgiu a Associação Gastronômica Cultural e Folclórica Boliviana “Padre Bento”, mantida pelos próprios feirantes e por empresas ligadas sobretudo ao transporte Bolívia-Brasil. Além de organizar a feira, a associação promove a cultura andina na cidade de São Paulo e oferece educação aos filhos dos imigrantes, na maioria residentes ilegais.
Em 2002, os bolivianos deixaram a Praça Padre Bento e mudaram-se para uma praça na junção das ruas Pedro Vicente, Carnot e das Olarias., posteriormente rebatizada para “Kantuta” (uma flor vermelha, verde e amarela, que cresce na região dos Andes e tem as mesmas cores da bandeira da Bolívia), que hoje é principal ponto de encontro da comunidade na capital.
As barraquinhas, montadas ao redor da praça, oferecem artigos típicos da cultura dos Andes, podem ser divididas em três grupos:
- Artesanato: Vasos, potes e objetos de decoração em argila, madeira, couro e metal; bolsas e roupas; instrumentos musicais (há muitas variações da típica flauta de pã boliviana, tocada por grupos folclóricos); malhas típicas de lã de lhama com os desenhos característicos dos Andes;
- Cabeleireiro Chamado pelos bolivianos de “pelucaria”, são barracas cobertas com lonas, repletas de espelhos e fotos de cortes de cabelos nas “paredes”. Normalmente as filas são grandes;
- De tudo um pouco: CDs, DVDs, publicações e programas de TV bolivianos; empresas de ônibus e até uma companhia aérea boliviana vendem passagens promocionais para La Paz e outras cidades latino-americanas; cartões telefônicos para ligações para a Bolívia.
Nas datas comemorativas da Bolívia, há apresentações de grupos de danças folclóricas. Cerca de 300 pessoas trabalham na feira, entre imigrantes, descendentes e brasileiros, que recebe cerca de 2 mil visitantes (90% bolivianos, além de paraguaios, peruanos e, é claro, brasileiros) a cada domingo.
Mas o ponto forte da feira é mesmo a culinária andina. As barracas vendem pratos tradicionais bolivianos – nos cardápios em formato de cartaz vêem-se caldos, carnes, frango e peixe, em formatos diversos (grelhados, ensopados, fritos). Entre os destaques, a Salteña (espécie de empanada que pode ser frita ou assada, comida com colher), o Anticucho (coração de boi no espeto), o Chicharrón (carne frita suína), a Salchipapa (batatas fritas com uma espécie de salsicha boliviana), o Fricasé (cozido de porco ou frango com pimenta, batata seca e milho), o Pollo Dorado (frango frito, arroz e fritada de batata) e as sopas, como a de Mani, feita com amendoim.
Salteñas
Salteñas de carne e queijo com pimenta
Chicharrón sendo preparado
Para beber, refrescos fermentados que levam frutas desidratadas, como o Fresco de Quiza (suco de pêssego fermentado com canela e pêssego desidratado), o Fresco de Chicha Morada (suco de uma espécie de milho roxo), o Singani (destilado de uva moscatel), a cerveja boliviana Paceña e a famosa Inca Kola, refrigerante amarelo que é velho conhecido de quem já viajou pelo Peru e Bolívia
Para a sobremesa ou lanche da tarde, há também barracas que vendem o tradicional chá de coca, o Api (suco de milho roxo, que se bebe quente), Humanitas (espécies de broa de milho), pães bolivianos, doces típicos, biscoitos, bolo de laranja com chocolate e o Buñuelo (massa frita doce).
Para quem gosta de cozinhar, são muitas as barracas que vendem cereais (destaque para o milho roxo), batatas secas (como Chuño e Tunta), trigo integral, Quínoa (cereal típico do planalto boliviano), Maní (amendoim), Ají (pimenta em vagem), Poroto (feijão), Sultana (casca do café torrado), entre outros.
Um ótimo passeio de domingo, vale uma visita, mas leve dinheiro, pois as barracas não aceitam cartões.
Endereço: Praça Kantuta , s/n – Pari
Horário: Domingos, das 11hs às 19hs.
Como chegar: De transporte público, desça na estação Armênia do metrô, saída para a rua Pedro Vicente. A praça da Kantuta está a 700 metros. De carro, vá pela Avenida Cruzeiro do Sul, sentido bairro, e vire à direita na rua Pedro Vicente.
Quando ir: Ano todo. Apresentações de grupos de danças folclóricas nas datas comemorativas da Bolívia: "Festa das Alacitas" (24/01), Carnaval, Dia das Mães, Independência da Bolívia (06/08), aniversário de cidades bolivianas, Dia das Crianças e Natal.
sábado, 19 de janeiro de 2013
Praça Kantuta: Um pedaço da Bolívia em São Paulo
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