sábado, 11 de outubro de 2014

30 dias na Itália: Erice, Sicília


Castello di Venere e Torretta Pepoli

Pense em uma cidade murada medieval praticamente intacta, elevada exatos 751 metros acima do nível do mar e com apenas 700 habitantes, localizada a poucos quilômetros de destinos turísticos como San Vito Lo Capo, Riserva dello Zingaro, Segesta, Scopello, Selinunte e Ilhas Égadi. Graças a sua posição panorâmica e quase total inacessibilidade, Erice sempre foi alvo de disputas e conquistas ao longo dos séculos por gregos, cartagineses, romanos, árabes e normandos da Sicília.

Tudo começou com os Elímios no século 7 aC, povo de origem asiática conhecido por ter erguido a vizinha Segesta. Em Erice, os Elímios construíram um templo em louvor da deusa da fertilidade. Ali os fenícios passaram a adorar a deusa Astarte, depois os gregos louvaram a Afrodite e os romanos a Vênus. No período romano, todos os anos milhares de peregrinos visitavam o santuário para participar de rituais que incluíam a prostituição “sagrada” das hierodulas (meretrizes compradas para serem oferecidas à Vênus).

A mitologia conta que o nome Erice deriva de Éryx, filho da deusa Afrodite e do rei Butes. Os gregos a chamavam de Éryx, os árabes a conheciam como Gebel-Hamed, e o normandos mudaram seu nome para Monte San Giuliano, que permaneceu até 1934, quando Mussolini passou a chamá-la por Erice.


Ruas de Erice

A melhor maneira de conhecer Erice é perder-se no labirinto de ruas e becos estreitos de paralelepípedos cheios de arcos, passagens, escadas e paredes de pedra, com circulação de carros restrita (algumas ruas são tão estreitas que as pessoas precisam caminhar em fila indiana), e quando menos se espera dar de cara com fortalezas, igrejas, conventos, jardins, palácios, casas de pedra com pátios internos (herança dos árabes, onde ficavam as crianças e as mulheres, onde lavavam roupas, aproveitando os reservatórios que recolhiam água das chuvas no centro dos pátios), oficinas de artesanato e as famosas confeitarias com seus doces e bolos conventuais à base de marzipã (pasta de amêndoas), pistache e mel, outra herança dos árabes, que fazem a fama do lugar, como a Antica Pasticceria del Convento e a Pasticceria Maria Grammatico.


Mapa da cidade

Como chegar:

Carro: Saindo de Trapani (35km), você pode pegar a SP31 até Erice, já de Castellammare del Golfo (36km) ou Palermo (100km) você deve pegar a SS187 e seguir as placas indicativas em direção a Erice – você subirá por uma estrada chamada Via Erice, são 8km estreitos e sinuosos, mas com paisagens belíssimas. Há um bolsão de estacionamento fora dos muros da cidade em frente a pela Porta Trapani.

Funicular: Trapani e Erice são conectadas por um funicular, com saídas da Vila Capua, cerca de três quilômetros do centro (há ônibus que ligam o centro à base do teleférico). É possível deixar o carro no estacionamento junto à estação de funivia em Trapani. O ticket ida e volta custa €9, a viagem dura 10 minutos. Para mais informações, acesse www.funiviaerice.it – importante dizer que o funicular fecha nos meses de inverno.

Ônibus: A empresa AST faz oito viagens por dia entre Trapani e Erice – consulte os horários no site www.aziendasicilianatrasporti.it. A viagem dura entre 35 e 45 minutos, e custa €2,40 por trecho. Em Trapani, os ônibus saem da Piazza Ciaccio Montalto, 1.

Quanto tempo ficar: Apenas 1 dia. Um bate-e-volta é suficiente para conhecer todas as atrações de Erice.

O álbum completo de fotos de Erice está disponível na página do Viajante Comilão no Facebook.


Visão de Erice - ao fundo à esquerda, o Monte Coffano (659 metros)

A Porta di Trapani, construída no período normando, é a principal das três portas medievais que guardam o acesso à cidade (as outras são Porta Spada e Porta del Carmine). A cidade ainda é cercada por 800 metros de muralhas, erguidas entre os séculos 8-6 aC para defender a cidade no lado noroeste (as outras entradas da cidade foram defendidas por falésias). Em algumas das pedras dos muros estão escritas as letras do alfabeto fenício “beth”, “ayin” e “peh”, que poderiam significar que a muralha possui olhos para ver o inimigo, boca para comê-los e é um porto seguro para os habitantes da cidade. O trecho da muralha que ainda está de pé está em ótimo estado de conservação, onde é possível ver 15 pequenas torres de observação.


Porta di Trapani


Porta Spada


Porta di Carmine


Muralhas

Suba pela Via Vittorio Emanuele e admire as inúmeras construções históricas, como o Palazzo La Porta (século 13), Palazzo Platamone (séculos 14-19), Palazzo Coppola (século 19), Palazzo Chiaramonte (século 14) e o Palazzo Ventimiglia (século 14), antes de seguir para a catedral de Erice, originalmente chamada de Chiesa Regia Madrice ou Duomo dell'Assunta, erguida em 1314 com pedras retiradas do antigo Templo de Vênus. O estilo gótico marca cada detalhe da construção, com destaque para a torre de 28 metros de altura construída por Federico III de Aragón para ser uma torre de vigia. Na fachada sul estão nove cruzes de pedra, símbolo de vida na cultura do Oriente Médio, que vieram do templo de Vênus.


Duomo

O interior tem um plano com três naves separadas por duas longas fileiras de altas colunas que sustentam os arcos ogivais, reconstruídos após o teto desabar duas vezes, em 1853 e 1857. As capelas nos corredores foram adicionadas no século seguinte. No altar-mor está a figura da Madonna dell’Assunta, cercada por baixos-relevos que representam santos e cenas da Paixão. O teto é decorado por mosaicos. Para visitar a catedral, a parte interna da torre e subir os 108 degraus da escada em espiral que dão acesso ao alto da torre, paga-se €4.

A Piazza Umberto I é o coração de Erice, uma praça pública com restaurantes, cafés e lojas. Veja o Palazzo Municipale, sede do Polo museale "Antonio Cordici" e seus achados arqueológicos dos diferentes povos que passaram por Erice, como uma cabeça de Afrodite do século 4 aC, pinturas dos séculos 17-18, estátuas de bronze, jóias e esculturas em mármore.

Sem dúvidas a atração mais visitada de Erice é o Castello di Venere, fortaleza construída com fins defensivos pelos normandos nos séculos 12-13 sobre as ruínas do antigo Templo de Vênus. Nos tempos antigos, a estrutura era muito mais extensa e detalhada do que o atual, incluindo três torres em uma posição mais avançada, separadas pelo castelo por meio de um fosso profundo e uma ponte levadiça.



No portal principal, há o brasão de armas dos Habsburgos da Espanha, que confirma a presença espanhola em Erice. Após passar uma porta de entrada e subir um lance de escadas, os visitantes podem visitar as antigas ruínas, guiados por um mapa-guia que indica as diferentes etapas da história, como um poço onde supostamente Vênus se banhava em leite, as ruínas da prisão, restos de um antigo templo e de uma banheira de hidromassagem (caldarium), uma fonte com uma estátua da deusa grega do amor. A vista que se tem do alto é provavelmente a parte mais imperdível do passeio, é possível ver Trapani, Ilhas Égadi e o Monte Coffano.





O castelo pode ser visitado todos os dias, das 10hs às 16hs no período de 01/01 até o último domingo de março, até as 18hs até 31/05, até as 19hs de 01/06 à 14/07 e de 15/09 até o último domingo de outubro, até às 20hs de 15/07 a 14/09. Entre o último domingo de outubro até 31/12, o castelo abre somente aos sábados e domingos, das 10hs às 16hs, e de segunda à sexta somente mediante reserva, através do telefone  +39 3666712832. A entrada custa €5 (€6 em caso de ingresso combinado castelo + museu).

Aos pés do Castello di Venere estão a Torretta Pepoli, um pequeno castelo erguido entre 1872 e 1880 pelo Conde Agostino Pepoli, um famoso patrono de Trapani, para ser sua residência, restaurado recentemente e reaberto ao público como um cento cultural; e a Torri di Pepoli (ou Torre del Balio), erguida pelos árabes no século 11, que com suas três torres de vigia já fez parte das edificações defensivas que rodeavam o Castello di Venere, e que desde 2005 é usada como um hotel 4 estrelas chamado Torri Pepoli Resort.


Torretta Pepoli


Torri di Pepoli

Nos arredores do castelo está o Giardino del Balio, um jardim em estilo inglês do século 19. Além de ser um local agradável para uma caminhada e de oferecer uma bela vista da costa, tem canteiros de flores cercados por uma vegetação secular de espécies do Mediterrâneo, como pinheiros, ciprestes, amêndoas e azinheiras.

Entre 1424-1630, período de dominação espanhola na Sicília, as famílias eram obrigadas a fornecer comida e  acomodação para os soldados. Dada a insatisfação da população, o governo autorizou a construção de um quartel para abrigar a infantaria espanhola instalada na cidade. Localizado fora dos limites da cidade, o Quartiere Spagnolo está situado em uma plataforma rochosa de frente para o Monte Coffano (659 metros), todavia sua construção nunca foi concluída. Abandonado por muitos anos, foi restaurado no final do século passado e transformado em centro para exposições e eventos culturais.


Quartiere Spagnolo

Se San Gimignano é a cidade das 100 torres, Erice é famosa por suas 60 igrejas medievais, erguidas por normandos, árabes e espanhóis, mesclando diferentes estilos de arquitetura. É possível visitar grande parte das construções, embora com o passar dos séculos muitas foram convertidas em salas de leitura e escolas.

A Chiesa di San Cataldo faz referência a um bispo que viveu na Irlanda no século 7, cujo culto foi trazido a Erice por normandos, juntamente com o de San Giuliano. Erguida em estilo gótico em 1339, foi reconstruída em sua forma atual em 1786, o que mudou a orientação da planta com 3 naves. Vestígios do edifício original surgiram várias décadas atrás e são visíveis no canto direito da entrada principal, onde há também uma das fontes mais antigas de mármore Erice, datada do século 15.





O interior tem bancos de madeira originais, no altar está a estátua da Madonna della Stella (1599) e dos lados estão quatro capelas, duas de cada lado, dedicadas a São Carlos Borromeu, Sagrada Família, Santo Estêvão e San Cataldo, além de inúmeras pinturas e esculturas de madeira dos séculos 16-18 – destaque para a estátua de madeira de Jesus Crucificado, que remonta ao século 16 e se acredita ser milagrosa.

A aparência atual da Chiesa di San Martino remonta a sua reconstrução entre 1682- 1702, que substituiu a pequena igreja em estilo gótico erguida no século 14 com apenas uma nave por uma planta em cruz latina com nave central e duas naves laterais divididas por colunas, um belo e majestoso portal e um transepto encimado por uma cúpula rebaixada com arcos do tipo “sesto rialzato”, em estilo barroco renascentista.


Chiesa del Carmine (século 15)

O piso tem lápides dos séculos 17-18 e é finamente decorado com azulejos do mesmo período. O interior tem afrescos dos séculos 18-19, esculturas de madeira a partir do século 16 (como as do Purgatório, descrevendo um torso nu sendo consumida pelas chamas, e a imagem de San Martino di Giammatteo Curatolo a cavalo, oferecendo seu manto para os pobres), coro de madeira de 1761 e uma cripta.

Outra igreja em estilo gótico, a Chiesa di San Giovanni Battista foi construída no século 14 em uma posição privilegiada, com vista panorâmica do vale e da costa até o Monte Coffano. Facilmente reconhecida por sua cúpula branca, foi reconstruída no século 17, mas ainda mantém alguns elementos do antigo edifício. Hoje é usada como auditório, dentro há obras dos séculos 15 e 16, como uma escultura retratando San Giovanni Evangelista por Antonino Gagini e uma estátua de San Giovanni Battista, um trabalho de Antonello Gagini.


Convento e Chiesa di San Domenico

A Chiesa e Convento di San Salvatore foram construídos sobre antigas cisternas de água que serviram ao Templo de Vênus. O edifício, originalmente um palácio da família Chiaramonte, foi doado à Ordem Beneditina para a construção de um convento. Traços da construção original, como as janelas do século 14 e um portal do século 15, ainda são visíveis. O interior tem esculturas, uma biblioteca com mais de 20 mil volumes, manuscritos e documentos antigos, além de um museu com material arqueológico, objetos de cerâmica, bronze, prata, ouro, vidro, argila e moedas dos povos que passaram por Erice.

Fechamos o tour pelas igrejas de Erice na Chiesa di San Giuliano (século 13), fundada pelo conde Roger de Hauteville em agradecimento ao santo pela para a vitória contra os muçulmanos durante o cerco do Monte San Giuliano. A igreja atual foi construída no século 17, já a torre sineira foi erguida no século 18. O interior abriga um charmosa estátua de madeira pintada de San Giuliano.


Chiesa di Santa Orsola (século 15)

Existe um bilhete combinado permite conhecer o Duomo e subir a torre, visitar o Convento di San Salvatore, a Chiesa di San Martino e a Chiesa di San Giuliano. Custa €6,50 e pode ser adquirido no térreo da torre do Duomo.

Duas curiosidades sobre Erice:

1) A cidade é famosa internacionalmente pelo seu Centro Internazionale di Cultura Scientifica “Ettore Majorana” fundado em 1963 e que atrai pesquisadores de todo o mundo para o tratamento científico dos problemas que afetam setores como medicina, direito, história, astronomia e química. Por este motivo, a cidade recebeu o apelido de "cidade da ciência". Desde 1970 a sede do instituto é a Chiesa San Domenico, erguida em estilo gótico em 1542 e renovada em 1745.

2) Desde 1957 as estradas estreitas e sinuosas de Erice recebem todos os anos na primavera uma corrida de carros contra-relógio chamada "Cronoscalata Monte Erice", que faz parte do “Campionato Italiano Velocità Montagna” (CIVM). O percurso já chegou a ter 16,5km de comprimento, a rota atual é de 5.730 metros.

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