São Paulo – Esquina Mocotó

A Porcaria

Se talvez o Mocotó seja atualmente o principal embaixador da cozinha nordestina em São Paulo (e dono das maiores filas da cidade), cabe ao vizinho Esquina Mocotó a tarefa de mostrar a versatilidade dos ingredientes desta cozinha tão rica em sabores, aromas e cores, buscando diferentes combinações e trazendo uma roupagem moderna para algo tão tradicional. Na cozinha de autor do chef Rodrigo Oliveira, não tem limites para a criatividade.

Sim, eu sei que você vai dizer “puxa, mas é muito longe!”, e eu concordo, mas asseguro que vale cada quilômetro rodado para visitar a distante Vila Medeiros, onde o chef faz um trabalho elogiável em desenvolver a região e a mão de obra local. Também sei que você vai dizer “mas se eu tenho que andar tanto, aproveito e vou no Mocotó”, e aqui permita-me discordar: o Mocotó é um clássico, mas saiba que você comerá muito bem no Esquina - dois dos clássicos da casa mãe estão no cardápio, o unânime dadinho de tapioca e o baião de dois, assim como as clássicas caipirinhas.


Salão (Crédito: Divulgação)

Do cardápio, duvido você resistir às variações da carne de sol (em bolinho, tartar ou com acompanhado por baião de dois), o arroz de galinheiro ou o tutano assado no osso, para comer de colher.

No dia da nossa visita ao Esquina, e em todas as vezes em que estivemos no Mocotó, observamos um salão com movimento, mas longe de estar cheio, o que é uma boa notícia. Soube que a casa já vive situações de fila de espera, onde a reserva é recomendada, mas como a pegada lá é diferente, não acredito que chegará perto do caos do Mocotó, onde esperas de 4 horas são comuns e comer em pé nas mesinhas estrategicamente colocadas do lado de já virou tradição.




Painel do Speto

No ambiente rústico a madeira tem papel central na decoração, ganha destaque na parede da cozinha (que, aliás, é aberta para permitir uma integração entre os ambientes), nas mesas, nas cadeiras coloridas ou nas bancadas, marca registrada do Mocotó. De vez em quando o salão é preenchido com algum cheiro gostoso que vem da cozinha (acho que fazem isso de propósito, para chamarmos os garçons e perguntarmos o que é). Nos fundos, um grande painel grafitado pelo grafiteiro Speto dá viva à parede toda branca.

O atendimento é bem executado sem excessos, o pessoal é solícito e atencioso sem ser invasivo (daqueles que ficam do lado da mesa fazendo pressão para que você escolha e peça logo).

Uma boa casa começa com um bom couvert, e o do Esquina tem brilho próprio: cesta de pães quentinhos, de fabricação própria, um potinho de azeite e uma fantástica manteiga com cumaru (R$ 6,90 por pessoa). Viciante. A coisa começou séria.


Couvert

Da carta de petiscos, abrimos com o dadinho de tapioca (R$ 21,90 ou R$ 15,90, meia porção), que como diz o cardápio, “não dava para não ter”, e o saboroso bolinho de carne-de-sol com creme de requeijão (R$ 26,90 / R$ 19,90), com aquele gostinho de croquete de carne da avó. Como a carne tem um sabor mais intenso, o creme de requeijão ajuda a dar uma quebrada para que não fique enjoativo a alguns paladares.


Dadinho de tapioca


Bolinho de carne-de-sol com creme de requeijão

Se o Mocotó tem o dadinho, o Esquina tem um prato conhecido apenas como “A Porcaria” (R$ 44,90 / R$ 29,90), um dos “novos clássicos” da gastronomia paulistana. Servido em uma tábua como uma obra de arte, tudo (com exceção das florzinhas decorativas) é de porco - linguiça da casa, presunto cru e salame (normal e picante) da Salamanca (produzidos em Catanduva-SP), porco na lata (rillete de copa lombo coberto por manteiga de garrafa e flor de sal) e dadinho de porco (dadinho de tapioca com presunto, salame e linguiça defumada). Uma compota de cebola roxa ajuda a limpar as papilas gustativas e faz um bom trabalho com a linguiça. São sabores diferentes, texturas diferentes, maneiras diferentes de trabalhar e apresentar uma carne tão versátil como a de porco.

Fechamos com o PorcoBurguer, hamburger de copa de porco recheado com porco confit (rillete de porco), folhas de mostarda, maionese de pimenta cumari, bacon crocante e catchup caseiro no pão de mandioca artesanal, acompanhado por “croc mandioca”, para quem quer matar a saudade do inesquecível Mandiopan (R$ 29,90). Uma prova de que o mundo de harmonização de sabores é infinito, a cada mordida uma explosão de sabores invade a boca. Na minha opinião, o único pecado do lanche é o hamburguer muito alto (cerca de 200 gramas), e por isso o sabor da carne acaba prevalecendo sobre os demais. Aqui, certamente um burger de 150 gramas teria um melhor resultado.







Para beber, não podia faltar a Coruja Extra Viva (R$ 35,90), a melhor artesanal brasileira, servida sempre na temperatura correta, uma das principais razões para que eu percorra os mais de 20 km que separam o Brooklin da Vila Medeiros.



Sem dúvidas é na carta de sobremesas onde estão as maiores mudanças em relação do Mocotó, com a saída daqueles doces e compotas clássicos (e bem doces) para a entrada de misturas interessantes, onde o açúcar tem pouco brilho e os sabores dos ingredientes ganham força. Surpreendeu positivamente o Caja Manga, um purê de manga com baunilha, sorbet de cajá e coco crocante (R$ 14,90), com cada ingrediente brilhando sozinho, com diferentes percepções a medida que os sabores são combinados, e quase zero de açúcar.


Caja Manga

Sem dúvidas os preços são padrão Mocotó, o que significa que é possível comer bem sem gastar uma fortuna – aliás, este é segredo das duas casas. A qualidade da comida não perde em nada para a casa mãe. O Esquina tem brilho próprio e nhttp://oviajantecomilao.blogspot.com/2013/01/sao-paulo-mocoto-restaurante-e.htmlão depende do Mocotó para aparecer e ser reconhecido como uma das boas casas da gastronomia paulistana.

Endereço: Avenida Nossa Senhora do Loreto, 1104 – Vila Medeiros
Telefone: +55 (11) 2949-7049
Horário de funcionamento: Terça à sexta das 12hs às 15hs e das 19h30 às 23hs, sábado das 12hs às 16hs e das 19h30 às 23hs, domingo e feriado das 12hs às 16hs.
Internet: www.esquinamocoto.com.br