quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Maranello – Museo Ferrari



Se você é um ferrarista fanático, daqueles que tem sua própria coleção de camisetas vermelhas no armário e não larga o boné com o “cavallino rampante”, você deve ao menos uma vez na vida visitar a pequena Maranello, cidade de apenas 15 mil habitantes nos arredores de Modena e Bologna, na Emilia-Romagna.

Maranello é a casa da Ferrari, fundada por Enzo Ferrari em 1947 com o objetivo de fabricar carros de corrida, é atualmente uma das marcas mais veneradas no mundo do automobilismo. Lá foi produzida o primeiro 125 S, em 1947, e é lá que, até hoje, nascem algumas das máquinas mais cobiçadas do mundo.





De 1950 (quando a Fórmula 1 foi criada) até hoje, a Scuderia Ferrari é a única equipe a ter participado de todas as temporadas, totalizando 15 títulos de pilotos e 16 campeonatos de construtores (8 dos quais entre 1999 e 2008). Entre os recordes da escuderia, estão 863 GPs disputados, 220 vitórias, 207 pole positions, 225 voltas mais rápidas e 673 pódios.


Ferrari F60 (2009)

São dois museus, o Museo Casa Enzo Ferrari em Modena e o Museo Ferrari em Maranello, separados por apenas 20 km. O mais famoso é o de Maranello, localizado apenas 300 metros da fábrica e da pista de Fiorano, apresenta a história da marca através do acervo de carros de corrida e esportivos, troféus, fotografias e outros itens históricos relacionados com a história do automobilismo italiano. Recebe mais de 300 mil visitantes anualmente. O museu de Modena retrata a vida e trabalho do criador da marca, com exemplares raros da Ferrari, Alfa Romeo e Maserati, embora a principal atração seja um antigo armazém, que pertencia ao seu pai, onde Enzo Ferrari nasceu em 1898 e viveu por vários anos.



Para quem planeja visitar os dois museus no mesmo dia, existe um serviço de shuttle bus que conecta os dois museus, com saídas da estação de trem de Modena (ponto de ônibus número 4), do Museo Casa Enzo Ferrari e do Museo Ferrari em Maranello a cada 45 minutos. Para mais informações, clique aqui.


Parede com as miniaturas de todos os carros lançados pela scuderia desde 1950

Tudo em Maranello gira em torno da Ferrari – a fábrica, o museu, a pista, as lojas de souvenirs, e a maior concentração de Ferraris por metro quadrado. Ter uma Ferrari em Maranello é um negócio - para quem tem mais disposição (e muitos euros sobrando), empresas como Push Start e a Pit Lane Drive Passion oferecem test drives para quem quiser fazer roncar os motores pelas ruas – e estradas – da região. A brincadeira começa em €70 (10 minutos com uma F430 Spider) e pode chegar até €1250 (2 horas acelerando uma 458 Speciale). Existem opções para andar em circuito com uma 430 Challenge, começando em €540 (3 voltas na pista de Modena) até €1600 (10 voltas na pista de Misano, em Rimini).



O museu é dividido em três andares e cinco salas com seções temáticas, cada uma capaz de atender às expectativas do fã de corridas de carros e ao mesmo tempo conhecedor competente de carros antigos: Formula 1, carros esportivos, protótipos e o mundo dos Gran Turismo.

Confesso que esperava um pouco mais sobre a história da marca da Fórmula 1 – a única referência é a (sensacional, diga-se) “Sala delle Vittorie”, uma sala com todos os oito carros campeões do mundo entre 1999-2008 (incluindo o modelo F399, responsável pela quebra de um jejum de 16 anos), uma estante erguida a alguns metros do chão com os cerca de 110 troféus conquistados pela escuderia, alguns dos motores usados e os capacetes originais pilotos campeões do mundo na história da Scuderia.







Senti falta de um espaço melhor para os troféus, para que sejam vistos, admirados e fotografados, que divida com os visitantes as conquistas, cada qual com sua história, talvez um espaço interativo ou pelo menos placas para orientação. Colocar uma estante metros acima das nossas cabeças não ajuda em nada.

Os nove campeões – Räikkönen (2007), Schumacher (2000-2004), Scheckter (1979), Lauda (1975, 1977), Surtees (1964), Phill Hill (1961), Hawthorn (1958), Fangio (1956) e Ascari (1952, 1953) são timidamente lembrados e homenageados em um painel na parede, cada qual com sua foto, relação de títulos, capacete original e uma maquete 1:12 do carro utilizado. E só.


Ferrari 375 Indianapolis (1952), carro que abre a exposição "California Dreaming"

Pelo que li em alguns posts, o museu tem uma seção de memorabília com objetos de pilotos que já guiaram o carro vermelho, como luvas, capacetes, macacões e sapatilhas, mas acho que no dia da visita ela não estava aberta à visitação, ou estava temporariamente desativada – perguntei para a atendente, e nada. Olhando no site do Museo Ferrari, também não achei nenhuma referência à seção.

Espero que volte logo, pilotos como Villeneuve,  Barrichello, Massa, Berger, Alonso, Mansell, Alboreto, Prost e tantos outros não foram campeões pela escuderia, mas muitos foram importantes para os títulos dos seus companheiros, ganharam provas, a história deles guiando o carro é inegável, então merecem ser lembrados.


Ferrari 512 M (1970)


Ferrari Tipo 637 (1986), protótipo da scuderia para a Fórmula Cart (Indy)

O museu tem um acervo permamente (que, aliás, muda periodicamente) e recebe exposições temporárias, entre carros esportivos, clássicos e ultra modernos, cada qual com sua história, que pode ser sido escrita em uma pista de corrida, nas ruas de alguma cidade pelo mundo ou até mesmo nas telas do cinema. Não sei precisar quantos modelos estavam em exibição do dia da nossa visita – com certeza mais de 40.

No dia da visita vimos exposição temporária “California Dreaming”, que retrada os 60 anos da Ferrari em terras americanas, com carros que brilharam nas pistas de Indianápolis, Daytona e Laguna Seca, modelos que estrelaram filmes em Hollywood, como o 512 M guiado por Steve McQueen no filme “Le Mans”, além do clássico California T.


Ferrari 333 SP (1993)


Ferrari 308 GT4/LM (1974)

A visita pelo museu começa pelos primeiros monopostos saídos da fábrica de Enzo Ferrari, como o clássico Ferrari 125 S de 1947 e seu motorzão de 12 cilindros. Foram produzidos apenas três exemplares, e todos foram destruídos. Por ocasião da celebração dos 40 anos da empresa, foi construída uma réplica com base em desenhos originais preservados na Ferrari, totalmente funcional e usada em cerimônias e apresentações expeciais.

A sequência de carros dos anos 1940-1950 continua com o Ferrari 166 F2 (1948, o modelo em exibição do museu é de 1951), criado para as corridas de Fórmula 2, venceu a primeira corrida da categoria, o Grand Prix de Florença. Foi o carro com que o piloto Juan Manuel Fangio começou a estabelecer-se na Europa, e chegou a disputar algumas corridas na primeira temporada de F1.


Ferrari 166 F2 (1951)

A evolução da marca seguiu com a Ferrari 166 Inter (ou 166 MM Barchetta), de 1949, nascido como carro de corrida (modelo 166 S) e que se tornou um carro esportivo para a rua. Apenas 39 carros deste modelo foram produzidos. Seu primo, o 166 MM Berlinetta, venceu as 24 horas de Le Mans em 1949, o maior êxito esportivo da marca até então. Em 1950 entra em ação a série 195, com os modelos 195 S e 195 Inter.


Ferrari 312B, modelo usado nas temporadas 1970-1975 da F1, pilotado por Mario Andretti, Niki Lauda, Clay Regazzoni e Jacky Ickx

A Ferrari 750 Monza (1954), com seus 260 CV de potência e velocidade máxima de 264 km/h, foi um dos carros esportivos mais prestigiados a ser fabricado pela casa de Maranello. Ele começou sua carreira com a prova de 1000 km de Monza em 1954, a qual terminou apenas com os dois primeiros lugares.

O projeto do Ferrari 250 GT Berlinetta Passo Corto (1959) foi uma revolução para sua época, feito de alumínio, com menor espaço entre eixos, suspensão com molas independentes e freios a disco de série. O motor V12 de 2953 cc podia atingir 280 CV. Vencedor por três edições consecutivas o Tour de France de automobilismo (1960-1962), do Tourist Trophy em Goodwood e da classe GT em Le Mans em 1960 e 1961, dos 1000 km de Nürburgring em 1961 e 1962, e do título de construtores do campeonato de Endurance em 1961.


Ferrari 250 GT Berlinetta Passo Corto (1959)

As décadas de 1960 e 1970 foram marcadas por uma consolidação da marca no mundo das corridas e o surgimento de uma aura entre os apaixonados, atraídos pela imagem de estilo e elegância “made in Italy” presente em modelos como a Ferrari 275 GTB/4 (1967), Dino 206 GT (1967, o nome faz uma homenagem a Alfredo, filho de Enzo Ferrari morto em 1956), 512 M (1970), 365 GTB4 Competizione (1971), o primeiro carro da marca que atingiu os 400 cavalos de potência, conhecido informalmente como “Daytona” pelas três primeiras posições nas 24 Horas de Daytona em 1967; e o monoposto Ferrari 312 T4 (1979), carro vencedor do título de pilotos Jody Scheckter e de construtores naquele ano, com a ajuda de Gilles Villeneuve.


Ferrari 330 America (1964)


Ferrari 275 GTB/4 (1966)


365 GTB4 Competizione (1971)


Ferrari 712 Can Am (1971)

A Ferrari 126 C sucedeu o 312T nas temporadas 1981-1984, e embora tenha conquistado bons resultados (24 pódios, 10 vitórias, 10 pole positions, 12 voltas rápidas), o modelo 126 C2 ficou marcado em 1982 pela trágica morte de Gilles Villeneuve e o acidente quase fatal de Didier Peroni. Patrick Tambay e Mario Andretti assumiram o carro naquele ano e levaram à escuderia ao título de construtores.


Ferrari 126 C2 (1982)

A Ferrari F40 (1987) foi fabricada para comemorar o quadragésimo aniversário da marca e nonagésimo de Enzo Ferrari, um carro com 478 CV, faz de 0 a 100 em 4,1 segundos e pode chegar a incríveis 324 km/h. Para muitos especialistas, trata-se do melhor carro já produzido pela marca.


Ferrari F40 (1987)

No campo da Fórmula 1, os modelos Ferrari 640 (1989) e 641 (1990) troxeram importantes avanços tecnológicos para a categoria, como o câmbio borboleta com mudança de marchas no volante. Responsáveis por 3 vitórias em 1989 e 6 em 1990, foram de grande importância para o sucesso da escuderia nos anos seguintes.

Já o Ferrari 360 Barchetta (2000) é um modelo único, propriedade de Luca di Montezemolo, presidente da Ferrari entre 1991 e 2014. Customizado a partir do chassi do 360 Modena e dado a ele como presente de casamento em 2000 por Gianni Agnelli, então presidente da Fiat, é usado apenas em ocasiões muito especiais.


Ferrari 458 GT2 (2012)

Os modelos Ferrari Enzo (2002), Ferrari 458 Itália (2009) e Ferrari 599 XX (2009) representam uma fase da montadora com grande investimento em tecnologia, visando incorporar nos carros de passeio as tecnologias disponíveis na Fórmula 1 para redução de peso, ganho de potência e economia de combustível. Também tiveram papel fundamental na consolidação da marca Ferrari como um símbolo global.


Ferrari 612 Scaglietti (2004)

O Ferrari 599 SA APERTA (2010) é uma série especial baseada no 599 GTB Fiorano, produzida em homenagem aos 80 anos do estúdio Pininfarina, responsável pelo desenho dos modelos da Ferrari. As iniciais “SA” vêm de Sergio e Andrea Pininfarina, já “Aperta” vem de aberto em italiano e indica o teto removível. O SA APERTA é um monstro com motor V12 e 670 CV e potência, faz de 0 a 100 em 3,6 segundos e atinge 325 km/h.


Ferrari 599 SA APERTA (2010)

O atual “state of art” da casa de Maranello é o LaFerrari (2013), primeiro carro desde o Dino 308 GT4 (1973) que não teve a participação do estúdio Pininfarina. Sucessor da Ferrari Enzo, o carro reúne todas as tecnologias de ponta da F1, como carenagem de fibra de carbono, controle de tração, discos de freio de carbono e KERS para o reaproveitamento da energia, que faz o motor V12 chegar a impressionantes 963 CV e atingir 350 km/h de velocidade máxima.


LaFerrari (2013)

Além do museu, o visitante tem à disposição dois simuladores semi-profissionais (€25 por 7 minutos) onde é possível dar uma volta nas pistas de Imola, Silverstone, Nürburgring e Mugello. Também é possível realizar uma visita guiada à fábrica e ver a pista de Fiorano dentro de um ônibus (€15) – aliás, este é o unico jeito de chegar perto da pista, que é fechada ao público.

Para preços dos tickets dos museus e horários de funcionamento, clique aqui.

Endereço: Dino Ferrari 43 – Maranello
Internet: http://museo.ferrari.com

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