Trio brie, emmental e stilton
Atrás do bar, uma placa avisa “We don’t serve beer or spirits. We are a wine bar.”. Mas você não está num wine bar qualquer. Inaugurado por Arthur Gordon em 1890, o Gordon’s Wine Bar é o mais antigo wine bar de Londres.
Localizado na Villiers Street, pertinho da estação Embankment (e do Tâmisa), o bar fica no subsolo de uma construção datada de 1680. Antes de se tornar um bar, foi a casa de Samuel Pepys (diarista e figura histórica inglesa) no século 17, serviu como um armazém de sementes da empresa Minier & Fair e foi inundado várias vezes até o Tâmisa ser represado em 1824. Logo após a abertura do bar, o autor Rudyard Kipling foi morar lá como inquilino, onde escreveu o romance “The Light That Failed” na sala de estar acima do bar – em sua homenagem, a casa foi batizada como “Kipling House”. O Gordon’s Wine Bar também foi o primeiro lugar na cidade que começou a vender vinho sem licença, de acordo com a “Vintner Charter” (Carta de Viticultor) de Edward III, datada de 1364.
Fachada na Villiers Street
Curiosidade: A família Gordon que é a atual dona do bar não tem nenhuma relação com o fundador Arthur Gordon. Em 1975, Luis Gordon descobriu o bar e assumiu seu controle, coincidência que ajudou a manter vivo o nome Gordon.
Degustar vinhos no Gordon’s Wine Bar é, antes de mais nada, uma viagem no tempo, uma vez que o ambiente mantém a mesma atmosfera de 123 anos atrás. No salão principal, acessado por uma escada íngreme num beco na lateral da construção, é uma espécie de porão onde tudo é de madeira, incluindo as paredes, móveis e teto (que aliás vira uma cachoeira quando chove). As paredes são cobertas por recortes de jornais antigos e velhos cartazes, além de garrafas empoeiradas. Na área do bar, tonéis e barris de vinho completam a decoração. Não existe música ambiente, o único som são as conversas – e sussurros – vindos das mesas e do bar de vinhos.
Mas basta andar alguns passos no salão para avistar o lugar mais espetacular da casa: uma caverna encustrada na pedra com teto muito baixo (tenho 1,64 de altura, e tive que abaixar a cabeça para andar lá dentro), sem janelas nem luz elétrica, iluminada apenas por velas dentro de garrafas de vinho. Ao lado fica a “jaula”, uma pequena área com uma grade – é onde os vinhos costumavam ser guardados, até que recentemente construíram uma nova adega e o espaço foi convertido em salão. Pode parecer uma roubada (e certamente não aconselhável para os clautofóbicos), mas as mesas são disputadíssimas.
Caverna (Crédito pela foto: http://mapadelondres.org/2011/06/pubs-de-londres-gordon%E2%80%99s-wine-bar/)
A carta de vinhos oferece uma grande seleção de tintos, brancos e rosés do Novo e Velho Mundo, além de fortificados (as opções de vinho do Porto e Jerez são bem interessantes), listados por estilo ao invés de país, que podem ser apreciados em taça (ótima opção para quem quer degustar várias opções, com preços a partir de £4) ou garrafa (a partir de £15) – também possui uma boa oferta de rótulos em meia-garrafa e jarras de vinhos da casa.
Na dúvida, peça ajuda aos funcionários, eles são atenciosos e te ajudarão a escolher um bom rótulo por um bom preço (só não esqueça de deixar uma gorjeta depois, no pratinho que fica no canto). Escolhemos uma meia-garrafa de Casillero del Diablo Reserva 2012, clássico da Concha y Toro.
Para comer, opções de pratos frios (saladas, frios, patês) e quentes (carnes, peixes, tortas, vegetais) da culinária tradicional britânica, dispostos em estilo buffet, mas são os lindos e enormes queijos, servidos com pão, os melhores amigos para acompanhar os vinhos. A tábua com 1 pedaço de queijo (cerca de 200 gramas) sai por £5, dois por £8,80, e três por £12,50, que ainda podem ser acompanhados por cebola em conserva e dois chutneys, servidos à vontade pelo próprio cliente.
Queijos e pratos quentes
Provamos o trio brie, emmental e stilton – os dois primeiros são excepcionais, com sabores fortes e marcantes (o brie ainda merece uma menção pela cremosidade, comparável aos melhores similares que provamos em terras francesas). Já o queijo curado inglês tinha sabor extremamente forte, até para um apaixonado por gorgonzola, e foi o único que não conseguimos comer inteiro.
Trio brie, emmental e stilton
Embora seja tratado pelos londrinos como o “um dos segredos mais bem guardados de Londres”, tornou-se nos últimos anos um lugar turístico, onde conseguir uma mesa pode ser uma tarefa bastante difícil, quase impossível em se tratando da caverna. O site deles possui uma opção de reservas, mas é preciso planejar a visita com alguns meses de antecedência para ter sucesso (importante observar também que a reserva só é garantida para chegadas até 12h45 no almoço e até 16h30 à tarde). Chegar cedo ou em horários alternativos (período da tarde, antes do jantar) pode ser uma opção mais recomendada. Para quem faz questão de ficar na “caverna”, uma dica é sentar em qualquer mesa e esperar que uma das poucas mesas fique vaga – quando isso ocorrer, procure ser rápido, pois provavelmente seu vizinho também estará de olho na mesma mesa!
Os garçons circulam pelo salão limpando as mesas e retirando os pratos, já que o sistema por lá é 100% self-service: logo na entrada, à direita ficam as opções para comer. A fila nem sempre é respeitada, portanto tenha paciência. Informe ao senhor ranzinza o que quer (queijos, pratos frios ou quentes), ele montará seu prato, pague e retire na hora. Em seguida, dirija-se até o bar, alguns passos à frente (onde também não existe fila, e em dias de lotação máxima pode ter um empurra-empurra bem indesejado, onde vence quem tem o cotovelo mais forte), escolha a bebida, pague e retire. Por fim, procure uma mesa (se estiver acompanhado, espero que a pessoa já esteja procurando enquanto você escolhe os comes e bebes) ou encoste em algum canto e coma em pé mesmo enquanto aprecia a atmosfera única (e espera alguma mesa ser liberada).
O local conta com um generoso espaço externo na Watergate Walk (a rua lateral que dá acesso ao salão principal), maior do que o espaço interno, com algumas mesas e barris com toldos e guarda-sóis verdes, esta última para comer em pé mesmo. Importante dizer que o lugar é ocupado em sua maioria por fumantes – para quem tem problemas, ficar do lado de fora não é uma boa opção.
York Water Gate (Crédito pela foto: http://memoirsofametrogirl.com/2012/10/04/york-water-gate-embankment-gardens-italianate-thames/)
Curiosidade: no passado a Watergate Walk foi um caminho usado pelos nobres para embarcar e atravessar o rio – até hoje é possível avistar o pórtico "York Water Gate", localizado no Embarkment Gardens, por onde eles passavam.
Antes que eu esqueça: os banheiros ficam no andar de cima, acessados a partir de uma escada bastante íngreme localizada no meio do salão. Após algumas taças de vinho, tome cuidado!
Endereço: 47 Villiers Street, Embarkment
Telefone: +44 (0)20 7930 1408
Estações de metrô: Embankment (Bakerloo, Northern, Circle e District Lines) e Charing Cross (Northern e Bakerloo Lines)
Horários de funcionamento: Segunda a sábado das 11hs às 23hs, domingo das 12hs às 22hs. Não abre dia 25 de dezembro.
Internet: http://www.gordonswinebar.com
sábado, 30 de novembro de 2013
Londres – Gordon’s Wine Bar
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