Mix de Salsichas
Como já disse em posts anteriores, é sempre complicado fazer um review de restaurantes clássicos, com imagem consolidada, premiados e com clientela fiel.
Falar sobre o Zur Alten Mühle (“Ao Moinho Velho”, em alemão), a mais autêntica taberna alemã da cidade, significa falar da sua importância para a construção da imagem do Brooklin como reduto da colônia alemã em São Paulo – sem dúvidas ajuda o fato do bairro possuir a maior concentração germânica da cidade, mas este bar-restaurante faz um papel importante para divulgar os costumes e a gastronomia locais.
Salão principal (Créditos: Divulgação)
Fundado em 1980 pelo imigrante alemão Wihelm Heying, esta embaixada da comunidade alemã do bairro começou como ponto de encontro, feito por e para alemães, para matar a saudade do país, da língua, dos costumes, da comida. O bairro possui outros restaurantes de comida típica (caso do Jucalemão, outro clássico), mas nenhum simboliza tanto o país como o Barzur, como é carinhosamente chamado pelos frequentadores.
Nos mais de 30 anos de bons serviços prestados, o Zur Alten Mühle assistiu a transformação de um bairro com vocação industrial para um aglomerado de condomínios residenciais, ruas planas e arborizadas, que transformaram o Brooklin numa das áreas mais valorizadas da cidade, sem perder suas tradições.
Fachada
Localizado numa rua tipicamente residencial, a fachada com cara de chalé chama a atenção. O ambiente procura reproduzir as tradicionais choperias da Bavária, com paredes revestidas de madeira escura de lei trazida de Minas Gerais e do sul brasileiro, incluindo pilares esculpidos por escravos, além de cadeiras revestidas de couro e mesas de mogno. Decoram o salão as incontáveis bolachas de chopp e artigos de futebol, outra paixão nacional – flâmulas, camisas de times e da seleção.
Não poderia faltar um belo balcão, talvez o melhor lugar para apreciar o espetacular chopp da casa (já já falaremos sobre ele), com visão privilegiada do salão e da impressionante coleção de latinhas de cervejas que decoram o bar.
Balcão decorado com as latinhas e bolachas de chopp que marcam a identidade da casa
Atualmente comandado pelos irmãos Werner e Carlos, filhos do fundador, é o bar-restaurante que mais respeita as tradições germânicas em São Paulo. Sem exageros, lá dentro fala-se mais alemão do que português – a clientela fiel é composta pelos imigrantes e descendentes que moram no bairro e frequentam o lugar há anos, como se fosse uma extensão da casa deles, são amigos dos donos e chamam os garçons pelo nome.
Apesar do ar boêmio, o lugar jamais perdeu sua atmosfera familiar. Não estranhe se começar a ouvir um idioma diferente, é muito comum ouvir conversas em alemão entre as mesas. Se souber um pouquinho da língua, poderá enturmar-se sem problemas.
Um dos motivos que tornou o bar-restaurante um clássico paulistano é a qualidade do chopp (R$ 6,80), na opinião deste blog o melhor de São Paulo, tratado como estrela principal. Antes de serem servidos, os barris de chopp Brahma descansam por pelo menos 24 horas numa câmara fria, calibrada a exatos 6 graus. A chopeira a gelo (uma relíquia, só existem outras duas em atividade na cidade) em formato de barril (obviamente de madeira), tem duas torneiras, uma para o líquido levemente dourado (sem pressão) e outra para o formar o creme em pressão controlada, um pouco abaixo da normalmente praticada, técnica que confere leveza ao chopp que chega à mesa na hannover, aquela taça de pezinho, numa temperatura entre 3 e 5 graus.
Chopeira
Além do famoso chope, a casa faz sucesso pela oferta de cervejas especiais, onde predominam rótulos da Alemanha (Erdinger, Paulaner, Fransiskaner, Weihenstephaner), Bélgica e Holanda.
Antes de explorarmos do cardápio, vamos falar do atendimento. Sendo uma casa “feita por alemães” (o que inclui a maioria dos garçons), não espere aquele cidadão caloroso, afável e brincalhão, que vai te sugerir uma bebida e falar dos pratos com toda a alegria do mundo, oferecer uma sobremesa. Os funcionários são atenciosos, o serviço é rápido, mas os caras são alemães – o que não quer dizer que sejam mal-educados (embora muitos achem isso), eles apenas são diretos e de pouco papo, sem jamais perder a educação.
Uma Erdinger para relaxar enquanto a comida não chega
Chegou a melhor hora, falarmos das comidas com sotaque alemão. Para combinar com os ares de taberna, muitos pratos clássicos da culinária alemã são oferecidos em versões aperitivo, casos do kassler e eisbein, as porções de salsichão ou os canapés Tartarhäppchen (carne crua temperada no pão preto), Käsehäppchen (queijo gorgonzola), Lingüiça Blumenau e Schnittchen (rosbife caseiro). Mas a casa é famosa por seus Bouletten (R$ 22,30, seis unidades), que são bolinhos de carne com tempero autêntico, casquinha crocante e recheio úmido, servidos com mostarda preta à parte.
Filet à Parmegiana, uma das (poucas) opções não germânicas do cardápio. Carne macia e sequinha, ótimo molho de tomates, generosa porção de queijo gratinado. Vale muito a pena.
Da gastronomia clássica alemã, pratos como paprika schnitzel (filet mignon com molho de páprica e knödel, um nhoque típico alemão), mix de salsichas (branca, defumada e salsichão, servidas com batatas e bacon em pedaços; R$ 31,80), eisbein (joelho de porco) e kassler (bisteca suína cozida ou grelhada, acompanhada de batatas e chucrute) são presenças garantidas. No primeiro domingo do mês, eles servem o tradicional e famoso marreco recheado com repolho roxo – ligue e faça reserva com antecedência, porque a casa lota!
O cardápio de sobremesas não surpreende tanto quanto o ambiente, as bebidas e os pratos: a única que vale o investimento é o tradicional Apfelstrudel, de massa crocante e com pouco uso de açúcar (como manda a tradição germânica), mas que na minha opinião poderia vir com menos passas.
Apfelstrudel
A porção de Três Leites Moça não agradou: além de não ter o doce de leite de corte (anunciado no cardápio), apenas o chocolate é saboroso, as outras duas são extremamente doces.
Nos meses de Maio e Outubro, a pacata Princesa Isabel e as demais ruas do quarteirão (Joaquim Nabuco, Bernardino de Campos e Barão do Triunfo) transformam-se numa pequena Oktoberfest por causa da MaiFest e BrooklinFest, festas típicas que já fazem parte do calendário da cidade com espetáculos musicas, venda de artesanato, comida típica e muito (muito mesmo) chopp. Fica a dica.
Cada festa ocorre num final de semana do mês (MaiFest em Maio e BrooklinFest em Outubro), reunindo impressionantes 200 mil pessoas – e o número não para de crescer a cada nova edição. Embora o evento ocorra na rua, o Zur Alten Mühle fica entupido nesses finais de semana, recebendo não apenas os frequentadores assiduos mas também gente de outros bairros (e até outras cidades) interessada em conhecer o ambiente, provar das comidas típicas e acabar com o estoque de cervejas da casa.
Os preços não são baixos e acabam carregando um pouco da fama e história do lugar , mas a comida é bem feita e com qualidade, os pratos são bem servidos e a relação custo/benefício compensa. Acho que briga chucrute a chucrute com o Windhuk pelo posto de melhor restaurante alemão de São Paulo.
Endereço: Rua Princesa Isabel, 102 - Brooklin Paulista - São Paulo - SP
Telefone: +55 (11) 5044 4669
Horário de funcionamento: Segunda das 17hs à meia-noite, terça a domingo das 12hs à meia-noite.
Estacionamento: Tem valet (R$ 18), mas é comum encontrar vaga na própria rua, tipicamente residencial.
Internet: http://www.barzur.com.br/
terça-feira, 26 de novembro de 2013
São Paulo – Zur Alten Mühle
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