sábado, 23 de fevereiro de 2013

Buenos Aires – Don Julio



Como gourmandise, gosto de comer bem, descobrir novos lugares, ler sobre restaurantes e planejar minhas viagens com base na oferta gastronômica do lugar. Como blogueiro, sei que a avaliação de um restaurante exige responsabilidade e isenção de opiniões de quem escreve. O blog “O Viajante Comilão” acredita que a opinião imparcial de um lugar dificilmente pode ser baseada em uma única visita, sob o risco de enaltecer falsas impressões e/ou ocultar grandes achados.

Como regra geral, a avaliação de uma refeição é baseada em três fatores: serviço, ambiente e comida. O custo/benefício acaba sendo uma consequência natural das três avaliações. Quando alguma coisa não atinge as expectativas, a decisão de voltar ou não depende de uma regra simples:

1) Se o serviço não foi bom, provavelmente voltarei – vai que o cara acordou de mau humor;
2) Se o ambiente não agradou, com exceção de fatores extremos (falta de higiene), voltar ou não depende de outros fatores, como um ótimo serviço ou uma excepcional comida. É o caso do El Desnivel;
3) Se a comida não foi boa, aí a coisa é mais complicada – dificilmente voltarei.

Tudo isso para explicar minha opinião sobre o Don Julio, bodegón familiar com cerca de 30 anos, localizado em Palermo Soho. Historicamente frequentado por portenhos, nos últimos anos tornou-se um lugar de turistas – cerca de 80% do público. No comando da parrilla, está Pepe Sotelo, para muitos o melhor parrillero de Buenos Aires.



O ambiente define bem o conceito de “bodegón porteño”, com tijolos nas paredes, móveis rústicos de madeira e barricas de vinho acima do bar. Prateleiras com centenas de garrafas de vinho bebidas pelos clientes, devidamente autografadas, criam uma atmosfera de adoração ao vinho. Nomes, datas, lembranças – em cada garrafa, um cliente registrou sua história, sua celebração.



Visitamos a casa na hora do almoço. Casa cheia, fomos prontamente recebidos por um dos donos com duas taças de Prosecco, e aguardamos não mais que 5 minutos do lado de fora até sermos devidamente acomodados no salão interno. Importante dizer que a taça de Prosecco não é exclusividade do Don Julio – o La Cabrera também recebe seus clientes assim.



A cordialidade da primeira impressão contrastou com o momento seguinte, sermos atendidos pelo garçom responsável pela mesa. Ficamos inacreditáveis 10 minutos aguardando que alguém nos recebesse, entregasse os cardápios, trouxesse o couvert, anotasse os pedidos. Perdemos as contas de quantos garçons passaram pela nossa mesa, localizada a poucos passos do bar e do caixa (onde estava um dos donos) e ninguém fez nada.

Após quase levantarmos para irmos embora, um garçom esbaforido apareceu do nada, nem falou “buenas tardes” e começou a fazer o serviço funcionar, entregando os cardápios e o couvert. A partir daí o serviço mostrou-se rápido e prestativo, mas não o suficiente para apagar a péssima primeira impressão.

A carta de vinhos merece atenção, são cerca de 180 rótulos, em sua maioria de produtores pequenos, com ótimos preços. Ao invés de pedir um tintão, resolvi fazer uma experiência: tendo em vista os quase 35 graus que estava lá fora, resoilvi pedir um vinho branco para combinar com as carnes. Antes que você diga “carne combina com vinho tinto”, existem excelentes brancos, com traços de madeira e notas florais, que combinam tão bem com uma carne como um bom tinto. Escolhemos o “Piedra Negra Pinot Gris 2012”, do Valle de Uco, Mendoza (AR$ 80, R$ 32). Vinho bastante saboroso, frutado no nariz e floral na boca, com boa presença de madeira. O vinho agradou, embora tenha subido um pouco no final.

O couvert da casa (AR$ 18 por pessoa, R$ 7,20) tem pães quentinhos, vinagrete, molho chimichurri e manteiga. Bom, ficou melhor no final da refeição – daqui a pouco você entenderá porquê.

Para aquecer, pedi uma empanada de carne (AR$ 17, R$ 6,80). Frita, sequinha, massa bem feita, mas o recheio estava seco e sem tempero, com carne cortada de qualquer jeito, vários pedaços grandes e excesso de gordura. Para esquecer.



As carnes não agradaram. Em comparação com outros restaurantes da região, como La Cabrera e Miranda, os cortes são pequenos, caros, pouco saborosos – faltou suculência no corte e sal no tempero. O bife de chorizo (AR$ 73, R$ 29,20) veio com excesso de gordura – 40% da nossa carne foi para o lixo. O bife de lomo tinha sabor na média, pecou apenas pelo tamanho microscópico e pelo preço – incríveis AR$ 98 (R$ 39,20), a mais cara que comemos em Buenos Aires.


Bife de Chorizo


Bife de Lomo

Para acompanhar, nos sugeriram batatas chips (AR$ 40, R$ 16). Peraí, batatas chips??? Desculpe-me, mas me recuso a pagar R$ 16 por uma porção de batatas chips padrão Elma-Chips, sem nada de mais. Você terá mais sucesso (e pagará mais barato) em comprar um tubo de Pringles.

Fugimos das fritas e resolvemos pedir uma salada. Escolhemos a “Ensalada N° 1”, com agrião, abóbora, palmito e parmesão (AR$ 59, R$ 23,60). Básica, a abóbora não tinha gosto de nada e o molho à base de frutas vermelhas, sem comentários. Esperávamos outra coisa, até porque o molho não aparece descrito no cardápio.


Couvert, salada e vinho

Ao final da refeição, não estávamos satisfeitos. De repente, notamos que o garçom não havia retirado o couvert. O que estava bom no começo ficou ótimo no final.

Para fechar, o garçom não nos pediu para “autografar” a garrafa de vinho, que provavelmente foi uma das poucas coisas, ao lado do couvert e do ambiente pitoresco, que valeu a pena.

Valor da conta: couvert (2 pessoas), 1 suco de laranja, 1 vinho 750ml, 1 entrada, 2 carnes, 1 salada = AR$ 385 (R$ 154), sem serviço. Serviço ruim, comida ruim. Na nossa opinião, o lugar é caro demais pelo que oferece. Eu sei que na internet você vai achar vários elogios, mas um lugar que não consegue fazer uma carne que mereça meu respeito não merece minha recomendação. Não voltarei. Vá por sua conta e risco.

Endereço: Calle Guatemala, 4691 (esquina Gurruchaga)
Telefones: +54 (11) 4831-9564 e 4832-6058
Horário de funcionamento: Todos os dias das 12hs às 16hs (almoço) e das 19h30 à 1 da manhã (jantar).
Como chegar: Metrô Scalabrini Ortiz (Subte Línea D), suba 4 quadras na Av. Scalabrini Ortiz, vire à direita na Guatemala e ande mais 3 quadras.

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