Alguns dos pratos do Osaka Palermo. Pena que o resultado deixou a desejar
Confesso que, quando conheci o restaurante peruano-oriental Osaka em Santiago e provei da fantástica cozinha do chef Ciro Watanabe, criei uma expectativa enorme para conhecer as casas de Buenos Aires, reconhecidas pela crítica local como a melhor cozinha da cidade. E numa cidade onde as carnes são referência de gastronomia, ter no topo uma casa especializada em peixes e frutos do mar merece respeito.
Restaurante nascido em Lima e um dos maiores expoentes da cozinha do seu país, conta com representantes em Santiago, México DF, São Paulo (aberta em Jan/13) e duas casas na capital portenha, localizadas em regiões valorizadas nos bairros de Palermo (inaugurada em 2005) e Puerto Madero (2012).
Foram duas visitas na filial de Palermo, com cozinha comandada pelo chef Renato Ortigas, e a conclusão é de que comemos mal e pagamos caro. Quando você visita um restaurante uma única vez e o serviço (por “serviço”, defino três pilares: COMIDA, ATENDIMENTO e PREÇO) é ruim, pode ter sido um dia fora da curva. Mas quando você visita duas vezes, em horários diferentes, um dia com casa cheia e outro quase deserta, e o resultado não muda, é porque existe algo de errado com o restaurante.
Durante o texto, farei diversas comparações entre as casas de Santiago e Buenos Aires, que são gerenciadas por chefs diferentes. Dadas as diferenças, algumas delas grotescas, chego a conclusão de que o Osaka não segue um rígido e único padrão de qualidade para todas as casas, algo fundamental para que o serviço vendido seja o mesmo, não importa se no México, São Paulo ou Lima. Neste quesito, infelizmente, Buenos Aires está bem distante de Santiago.
Quem vai no Osaka, está disposto a pagar pelo menos 50% a mais na conta, e certamente espera em contrapartida um serviço excepcional. Nas duas visitas que fizemos em Palermo, infelizmente, o serviço não foi sequer bom. A expectativa virou decepção. Na minha opinião, a casa de Palermo não respeita a camisa que veste.
O Osaka Palermo tem dois ambientes, divididos em dois pisos, cada um com um bar para atender os clientes. O ambiente é mais escuro que o de Santiago, que tem a vantagem de contar com um grande janelão que fornece luz natural para todo o salão.
Sushi bar no térreo
Talheres, detalhes da decoração e o ótimo suco de laranja
Nossa primeira visita foi num sábado à noite, em teoria o período de maior movimento semanal. Sem reservas e com casa cheia, fomos gentil e prontamente acomodamos no bar do primeiro andar. Isso sacramentou o fracasso da primeira noite. Além da cozinha ser no térreo, não tínhamos garçom fixo: a responsabilidade de anotar nossos pedidos e cobrar a cozinha ficou a cargo do barman, cuja primordial tarefa é preparar os drinks da casa. O cara foi atencioso, esforçou-se ao máximo, mas não dava para esperar milagres – o prato que chegou mais rápido levou intermináveis 20 minutos.
A segunda visita foi num dia de semana, na hora do almoço. Fizemos reserva, mas nem seria necessário: a casa estava deserta, com no máximo 20% das mesas ocupadas. Sentamos ao lado do sushi bar, o que nos permitiu acompanhar de pertinho o trabalho da equipe e tentar explicar, em parte, os resultados ruins que tivemos.
Para beber, Pisco Sour (AR$ 45, R$ 18), um clássico peruano. Saboroso e bem feito, apenas observo a incrível diferença na quantidade – o drink de Buenos Aires é bem menor que o de Santiago. O suco de laranja (AR$ 38, R$ 15,20), 100% natural, docinho e cheio de gominhos, teve bom resultado.
Pisco Sour de Buenos Aires (esq) e Santiago (dir): Antes que você pense que eu bebi tudo, o drink de Palermo é só isso mesmo!
O bem feito Ceviche Clássico (AR$ 114, R$ 45,60), que pode vir em três níveis de picância (suave, médio e intenso), foi pedido nas duas visitas. Aprovamos a disposição – peixe, batata doce ao molho de laranja, choclos (milho) e bulezinho com leche de tigre separados, o cliente define como quer comer, o que quer misturar, a quantidade de leche de tigre que quer colocar no peixe. Uma idéia simples e que agradou bastante.
No segundo dia, o garçom, num momento "porquinho voluntarioso", derramou todo o leche de tigre em cima do peixe, sem a gente pedir. Detalhe: diferente do primeiro dia, queríamos comer o ceviche sem o molho, para saborear o pescado. Sem comentários.
Ceviche Clássico
Da carta de temakis, pedimos no primeiro dia um Togamaki (salmão na manteiga picante, cream cheese a abacate, AR$ 67, R$ 26,80), um dos melhores pratos do Osaka Santiago. Além de demorar uma eternidade para chegar, a alga estava quase molenga, o que indicava que o cone tinha sido preparado a algum tempo e estava lá, esperando por alguém com boa vontade para levá-lo até o primeiro andar.
Togamaki
Na segunda visita, pedimos outros temakis – Terimaki (camarão à milanesa, cream cheese, salmão e molho teriyaki; AR$ 67, R$ 26,80), Dos Salmones (salmão picante, salmão em molho teriyaki, abacate, molho agridoce; AR$ 67, R$ 26,80) e Maki Furai (salmão, cream cheese e abacate, em formato de “roll”; AR$ 61, R$ 24,40), onde apenas o último tinha alga crocante; nos demais, o negócio chegou molengão. Como nem tudo é crítica, os temakis são muito bem recheados, com destaque para o Terimaki, com 2 camarões gigantes e um pedaço generoso de salmão. O negócio é enorme.
Terimaki
Dos Salmones
Maki Furai
Ficar pertinho do sushi bar e observar a preparação do temakis mostrou uma diferença fundamental no serviço das casas de Santiago e Buenos Aires: enquanto na primeira cada cone preparado é servido imediatamente, independente de outros pedidos (inclusive outros temakis) da mesma mesa, na segunda existe uma preocupação para que todos os pratos sejam servidos juntos. Como resultado final, enquanto em Santiago a alga chegará crocante à mesa, na segunda as algas dos primeiros temakis feitos pelo sushiman chegarão em estado lastimável – os três temakis do segundo dia foram pedidos ao mesmo tempo, e só a alga do Maki Furai, o último a ser preparado, estava crocante. O primeiro temaki chegou a ficar mais de 5 minutos na bancada, esperando o sushiman finalizar os demais pedidos da mesa.
Talvez a crocância da alga seja indiferente em Buenos Aires, mas moro na cidade que tem a maior comunidade japonesa fora do Japão no mundo. Com todo respeito, de comida japonesa eu entendo. Comer um temaki com alga molenga, por mais que o recheio seja espetacular, é gastronomicamente broxante.
Outro prato que rendeu juras eternas de amor em Santiago foi o “Inca Gyoza” (gioza de pato confitado, cebola caramelizada e shiitake no wok, com molho "Huancayo", à base de queijo, azeite, pimenta chilli, alho, leite e sal). Pedimos o mesmo prato em Buenos Aires na primeira visita (AR$ 115, R$ 46), e nova frustração: gioza mal feito, com massa mole e quebradiça, parece que tinha sido feito na correria (e fechado sem o menor cuidado). O recheio estava bom, mas o pato estava mal desfiado, cheio de pedaços grandes. Para esquecer.
Inca Gyoza
Fechamos o primeiro dia com o Futomaki Terimaki (camarão à milanesa, cream cheese, salmão e molho teriyaki; AR$ 108, R$ 43,20), outro prato que em Santiago merece elogios, em Buenos Aires tinha recheio bom, mas praticamente impossível de pegar com os palitinhos sem quebrar, resultado de um arroz pouco firme (fora do ponto ideal) e de um prato feito às pressas.
Na segunda visita, pedimos o Tako Panca Miso (fatias de polvo confitado em molho de ají panca (um ipo de pimenta chilena) e miso (tempero japonês), acompanhado por arroz thai; AR$ 122, R$ 48,80). Fora a apresentação, completamente diferente do Osaka Santiago, achei o molho forte demais, lembrando um barbecue com pimenta. O polvo tinha boa textura, mas o molho forte interferiu no gosto. Não gostei.
Tako Panca Miso
Para fechar a refeição, pedimos o “Evil Scallops” (vieiras na grelha com manteiga de alho picante; AR$ 98, R$ 39,20), prato que não existe em Santiago. A apresentação é melhor que o sabor – são 6 conchas com 3 pequenas vieiras em cada, com boa quantidade de molho – aliás, parece o mesmo do polvo, só um pouco mais suave. Acho que a combinação não funcionou – assim como no polvo, o molho interferiu no sabor do fruto do mar.
Evil Scallops
Conta 1: 2 sucos de laranja, 1 pisco sour, 4 pratos (1 ceviche, 1 temaki, 1 futomaki, 1 prato quente) , cubiertos (couvert, incríveis AR$ 28 por pessoa) = AR$ 581 (R$ 232,40), sem serviço.
Conta 2: 1 suco de laranja, 1 refrigerante, 6 pratos (1 ceviche, 3 temakis, 2 pratos quentes), cubiertos (couvert) = AR$ 651 (R$ 260,40), sem serviço.
Conclusão: Não tenho problemas em pagar R$ 260 por uma refeição, desde que o restaurante esteja disposto a entregar uma experiência excepcional. Sei que a cozinha de excelência demanda investimento e pesquisa, mas o Osaka Palermo é caro demais pelo que oferece. Com o mesmo dinheiro, dá para comer duas vezes em restaurantes como Il Matterello, Bodegón El Obrero, El Desnivel, na opinião deste blog entre os melhores da cidade, três vezes no A Manger e quatro vezes no El San Juanino. Ou guarde a grana e vá comer no Osaka Santiago, infinitamente melhor.
Endereço: Calle Soler, 5608 – Palermo Hollywood
Telefone: +54 (11) 4775-6964
Horário de funcionamento: Segunda a sábado das 12hs às 16hs (almoço) e das 20hs à 1 da manhã (jantar).
Reservas: via Restaurando
Internet: www.osaka.com.pe
Como chegar: Estação Palermo (Subte Línea D), saia na Av. Santa Fé, cruze a linha do trem e caminhe 2 quadras em direção a Av. Cabildo. Do lado esquerdo, suba a Calle Fitz Roy até chegar na Soler (4 quadras).
sábado, 16 de fevereiro de 2013
Buenos Aires – Osaka (Palermo): A expectativa virou decepção
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