Em sentido horário: salão, escudo do Boca Juniors, flâmulas e bandeiras de times de futebol e o bife de chorizo, a estrela da casa
Quem pensa que o bairro portenho de La Boca só é conhecido pelas casinhas coloridas do Caminito e pelo mítico Estádio La Bombonera, casa do Boca Juniors, está enganado. Uma face pouco conhecida dos turistas que visitam o bairro é a gastronomia – casas familiares, ótima comida, porções gigantes e preços convidativos.
Já falamos aqui no blog sobre o Il Matterello, na nossa opinião o melhor restaurante italiano da cidade. Está em Buenos Aires e quer comer uma excelente carne? Esqueça as casas “pega-turistas” de Puerto Madero e vá direto para La Boca. Destino: Bodegón El Obrero. Na opinião deste blog, o El Obrero tem o melhor bife de chorizo de Buenos Aires.
E na opinião deste blog, Il Matterello e Bodegón El Obrero integram a tropa de elite dos 5 melhores restaurantes de Buenos Aires. Palermo ainda é o centro gastronômico da cidade, mas La Boca avança rápido.
La Boca é um bairro de origem operária, formado por imigrantes (forte presença de italianos e espanhóis) e argentinos que chegaram para trabalhar no porto e nos frigoríficos. Instituição centenária, o El Obrero nasceu em 1910, inicialmente como armazém de bebidas e local de pernoite. Aos poucos, passou também a alimentar os trabalhadores da região. Adquirido por dois irmãos asturianos, virou restaurante em 1954.
Fachada
Entrar no El Obrero é viajar no tempo. O lugar mantém praticamente os mesmos móveis e decoração há quase 60 anos – geladeiras de ferro, mesinhas de madeira, azulejos no chão. O imponente balcão e a parrilla nos fundos do salão também são sexagenários. Nas paredes, tijolinhos à mostra, lousas com os cardápios e uma infinidade de pequenas bandeiras, flâmulas e quadros que remetem a times de futebol da Argentina e do mundo, muitos doados por clientes da casa. Um lindo e gigantesco escudo do Boca Juniors, feito em madeira, reina absoluto em cima da porta de entrada.
As carnes altas e bem servidas, seladas à perfeição e incrivelmente macias atraem famílias portenhas, turistas de outras regiões do país e do mundo, dispostos a aventurar-se na ruazinha de apenas duas quadras a poucos passos da Autopista Buenos Aires e perto do cruzamento das avenidas Almirante Brown, a principal do bairro, com a Calle Benito Pérez Galdós. Num dos cantos do salão, fotos de famosos como Mick Jagger, Bono Vox e o Rei Juan Carlos, que já comeram por lá, confirmam a fama do lugar.
O cardápio oferece entradas, sopas, saladas e massas, mas o carro-chefe são as carnes, assadas ao tradicional modo portenho, em uma pequena parrilla nos fundos. Uma grande coifa evita que a fumaça de carvão tome conta do salão.
Lousa com o cardápio e a conta: nem o velho bloquinho chegou por lá
As sopas do El Obrero são famosas na cidade toda. Como estivemos lá num dia de sol com quase 35 graus, não provamos. Também passamos batidos pelas Rabas al Limón (anéis de lula empanados), um clássico da casa. Os anéis são gigantescos, e o aroma é irresistível.
Provamos o bife de chorizo (AR$ 69, R$ 27,60), com as marcas de grelha por fora, rosa por dentro e com boa presença de gordura, o que garante a suculência do corte. Na faca, maciez comparável a de um autêntico kobe beef japonês. Temperada apenas com sal e pimenta, derrete na boca. Eu já provei cerca de 10 bifes de chorizo em restaurantes de Buenos Aires, e o corte do El Obrero é imbatível.
Bifão de chorizo
Outra carne que merece elogios é o Bife de Lomo, o nosso filet mignon (AR$ 75, R$ 30), com bastante gordura entremeada, o que deixa a carne macia e saborosa. Estava ótima, mas minha carne pecou no ponto – chegou à mesa bem passada. Mesmo assim, na opinião deste blog a carne só perde para o El Desnivel, em San Telmo.
Bife de Lomo
Importante dizer que não nos perguntaram qual o ponto da carne, algo normal nos restaurantes em Buenos Aires. Não acho que isso tenha sido um deslize grave, mas agora que você sabe disso, não esqueça de pedir ao garçom seu corte “al punto”.
Para acompanhar, pedimos a salada da casa, uma tradicional combinação de alface, tomate e cebola (AR$ 23, R$ 9,20) e uma porção de batatas fritas à provençal (AR$ 26, R$ 10,40), ambas bem servidas, saborosas, mas sem nada de espetacular.
Batatas fritas à provençal
Aliás, me surpreende que a batata à provençal vendida nos restaurantes em Buenos Aires seja simplesmente uma porção de salsinha e alho salpicados por cima – nas casas de São Paulo, a batata recebe uma salteada final nos temperos, com mistura homogênea. Sim, São Paulo faz uma batata à provençal melhor que as vendidas na capital portenha.
Para beber, o suco de laranja 100% natural (AR$ 18, R$ 7,20) é docinho e vem com gominhos da fruta, mas a Stella Artois de litro (AR$ 30, R$ 12) chega trincando e é difícil de resistir.
As sobremesas que provamos não nos agradaram. Na panqueca de doce de leite (AR$ 30, R$ 12), apenas o recheio se salva – massa molenga e açúcar cristalizado totalmente sem sentido por cima quase estragam o doce. Seria melhor se fosse uma crosta caramelizada, como a do Miranda. O "Pavé de Vainilla Casero" (AR$ 31, R$ 12,40), uma torta de chocolate e baunilha com uma colherada de doce de leite à parte, tem sabor extremamente forte de martíni que, na minha opinião, estraga o doce. Depois da segunda colherada, fica difícil comer mais. Vale apenas pelo doce de leite.
Panqueca de doce de leite
Pavé de Vainilla Casero
Total da conta: 2 sucos, 1 cerveja (1 litro), 2 carnes, 2 acompanhamentos, cubiertos (couvert, 5 pesos por pessoa) = AR$ 327, ou R$ 130,80 (sem serviço).
Importante: O restaurante é um dos poucos da cidade que não aceita cartões – pagamento, só em dinheiro.
Endereço: Calle Agustín R. Caffarena, 64, La Boca
Telefone: +54 (11) 4362 9912
Horário de funcionamento: Segunda a sábado das 12hs às 16hs (almoço) e das 20hs até o último cliente (jantar). Fecha aos domingos e feriados.
Internet: www.bodegonelobrero.com.ar
Como chegar:
Opção 1: Táxi é o jeito mais fácil e rápido de chegar, mas não estranhe se o taxista errar o caminho – é complicado mesmo. Se o taxista não souber chegar, desça no cruzamento da Almirante Brown com a Benito Pérez Galdós e vá andando – são apenas 3 quadras. Separe AR$ 100 (R$ 40) entre ida e volta. E prefira visitar a casa na hora do almoço – a região não é das mais amigáveis para caminhar à noite, e é quase impossível conseguir um táxi na rua. Para ajudar, o restaurante oferece serviço de rádio táxi.
Opção 2: Uma alternativa para chegar pode ser o Buenos Aires Bus – se você planeja fazer o city tour no ônibus turístico, aproveite que existe uma parada exatamente em frente o restaurante (Parada 6: Usina de Las Ideas). Não vale a pena comprar o bilhete só para ir ao El Obrero – o ticket de 24 horas custa AR$ 120 (R$ 48) por pessoa.
Low cost: Os ônibus 29 e 64 atravessam a cidade e ligam Belgrano a La Boca, passando por Palermo, Centro e Puerto Madero. A tarifa custa entre AR$ 3 (R$ 1,20) e AR$ 4,75 (R$ 1,90), dependendo da distância – quanto mais distante de La Boca você esteja, mais cara será a tarifa. Os trajetos das duas linhas podem ser consultados em www.omnilineas.com/argentina/buenos-aires/bus-line/29/ e www.omnilineas.com/argentina/buenos-aires/bus-line/64/.
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
Buenos Aires – Bodegón El Obrero: O melhor bife de chorizo da cidade
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3 comentários:
Provavelmente a melhor carne que comi na vida. Comi um bife de chorizo e, depois, o resto do lomo que minha mulher não agüentou – já totalmente frio.
Outro marcado para a viagem a Buenos Aires!
Que bife é esse? Lindo de ver!
abs
George Pereira Camara Junior
Olá George, o primeiro bifão é o corte de chorizo, o segundo é o lomo (filet mignon) deles, ambos espetaculares. Um abraço!
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