sábado, 27 de setembro de 2014

Brunello di Montalcino - Biondi Santi, Banfi e Fattoi


Fattoi (esq) e Barbi (dir) estão entre os Brunellos que provamos

O mítico Brunello di Montalcino é provavelmente o vinho mais conhecido e venerado no mundo. Feito somente com a uva Sangiovese (conhecida como “Brunello” em Montalcino), típica do centro da Itália, pode ser considerado, junto com os Barolos, o vinho tinto italiano dotado de maior longevidade, além de ser o primeiro vinho italiano a receber a certificação DOCG (Denominazione di Origine Controllata e Garantita) em 1980, classificação máxima no mundo dos vinhos e que reúne os rótulos mais caros e cobiçados da Itália.


Além dos vinhos serem incrivelmente baratos, nos mercados é possível comprar garrafas 375ml de Brunello por módicos €10

Sua produção é controlada pelo “Consorzio del Vino Brunello di Montalcino”, criado em 1967, mesmo ano em que o vinho recebeu o selo DOC (Denominazione di origine controllata). Atualmente o consórcio tem 209 membros. Além do Brunello, a região possui outras três denominações de vinhos, os Rosso di Montalcino (DOC), Moscadello di Montalcino (DOC) e Sant’Antimo (DOC), distribuídos em 3.500 hectares (2.100 só de Brunello). A região também produz grappas e azeites.

Atualmente existem 207 membros certificados para a produção de Brunello, 198 de Rosso, 13 de Moscadello (a única que não é feita com a uva Sangiovese; leva uva Moscato, o que torna a produção bem mais complexa) e 55 de Sant’Antimo.


Brunello da Fattoria dei Barbi, um clássico

Além de proteger e controlar o mercado, a classificação DOCG ajuda a estabelecer normas rígidas de produção, que garantem a padronização e a qualidade dos vinhos. A produção é controlada, o número de garrafas é limitado, a colheita é manual. Uma safra só pode ser engarrafada se passar pela aprovação de uma comissão de certificação de autenticidade e de qualidade, realizada por pessoal licenciado pelo governo, que realizam análises química e sensorial (degustação).

Se o vinho não passar pelo crivo dos especialistas, é recusado – o que significa que não poderá ser engarrafado com o rótulo Brunello. Dependendo da avaliação, ele pode passar por ajustes (por exemplo, retornar à barrica), ser liberado como Rosso (uma categoria abaixo), ou simplesmente jogado fora.


Fattoi, o ótimo Reserva 2003 e o inesquecível Reserva 2007

Para evitar manipulações posteriores, todas as garrafas de vinho DOCG recebem um selo cor de rosa numerado, cuja emissão é controlada pelo governo, a ser aplicado nas tampas das garrafas. Controles rígidos são efetuados para garantir que o número de selos fornecidos corresponda exatamente ao volume de vinho que pode ser produzido, segundo os limites da regulamentação.

Além das regulamentações de um vinho DOCG, o vinho Brunello di Montalcino possui regras próprias. A produção é baixa, cerca de 8 toneladas por hectare (um DOC são 9 toneladas/hectare), e só pode ser comercializado 5 anos após a colheita. Durante esse tempo, o amadurecimento em barris de carvalho deve ser de, pelo menos, 2 anos. Apenas garrafas do tipo “bordeaux” podem ser usadas. O envelhecimento na garrafa deve ser de pelo menos 4 meses para safras normais, e 6 meses para Reserva. Mas esse é um vinho que pode viver, muito bem, até 30 anos esperando para ser apreciado.


Moscadello di Montalcino da Il Poggione, uma das 7 vinícolas do consórcio que produz as 4 denominações de vinhos de Montalcino. Vinho menos doce e mais ácido que os Moscato DOCG de Asti.

Na nossa viagem por Montalcino, tivemos a oportunidade de degustar vinhos das denominações Brunello, Rosso e Moscadello, e visitar 3 vinícolas. Seguem nossas impressões sobre as vinícolas e seus produtos:

1) Biondi Santi
Visitar a mítica Biondi Santi é uma obrigação de todo amante de vinhos que pisa em Montalcino, ponto. Estamos falando da família que inventou o Brunello di Montalcino, lá nos anos 1880. Pisar na vinícola, localizada cerca de 2,5km do centro de Montalcino é uma experiência incrível.

Como a maioria das vinícolas do vale, a Biondi Santi oferece um tour guiado gratuito que passa pelas principais instalações, explica a história do lugar e o processo de produção. Você saberá, por exemplo, que a família ainda possui 4 ou 5 garrafas de Brunello ano 1888, abertas apenas em ocasiões muito especiais.


Oliveira centenária


Alameda de eucaliptos na entrada da vinícola

E o lugar é algo de extraordinário, a alameda de eucaliptos centenários na entrada (toda vinícola tem, e quanto mais altos elas são os eucaliptos, mais antiga é a vinícola) é linda, a casa toda forrada de trepadeiras nas paredes (e que “dançam” quando bate o vento), as oliverias no jardim, as barricas quase centenárias, ainda em funcionamento.

Ao término do tour, os interessados são convidados a degustar dois rótulos da casa, 1 Rosso di Montalcino e 1 Brunello Vintage (€15).






Capela da Biondi Santi



O pacote tour + degustação é realizado de segunda à sexta em 3 horários (10h30, 14h30 e 16h30). O tour tem duração de 30 minutos, e a degustação dura 45 minutos.

Tour e degustação precisam ser obrigatoriamente agendados via email, no visite@biondisanti.it, ou telefone (atendimento em inglês e italiano), no +39 0577 848087.



Para os interessados em uma experiência mais ampla, existem outros dois pacotes de degustação, chamados “Seated Wine Tasting” (segunda à sexta às 15hs; 60 minutos; €50), com 1 Rosso di Montalcino, 1 Brunello Vintage e 1 Brunello Reserva; e o “Vertical Wine Tasting” (segunda à sexta, horário sob consulta; 2 horas; €50), com 1 Rosso di Montalcino, 1 Brunello Vintage, 1 Brunello Reserva e outros Reserva “escolhidos pelo cliente com custo compatível” (sabe-se lá o que isso significa).

2) Banfi
Fundada em 1978, a Banfi é uma das maiores vinícolas de Montalcino. O quartel general da família Mariani é o imponente Castello Banfi (cerca de 18km de Montalcino), que na verdade é o Castello di Poggio alle Mura, construção em estilo medieval na confluência dos rios Orcia e Ombrone datada de 1438, muito embora documentos encontrados dão conta de que a primeira construção no local ocorreu no início do século 9.



A vila foi adquirida pela Banfi e totalmente restaurada. Hoje abriga 2.830 hectares de vinhedos (Sangiovese, Cabernet Sauvignon, Merlot, Moscadello, Syrah, Chardonnay, Pinot Grigio e Sauvignon Blanc), um museu (Museo del Vetro), uma adega, um restaurante (“La Taverna”), uma enoteca e um hotel de luxo com serviço de spa e capacidade para hospedar 14 casais no “Il Borgo”, reconhecido como um dos melhores hotéis de vinícola do mundo.





O tour guiado é gratuito, realizado de segunda à sexta às 15h30 (entre Novembro e Fevereiro) ou às 16hs (entre Março e Outubro), e dura aproximadamente 1 hora. As degustações são realizadas na enoteca do castelo (€15). O agendamento deve ser feito via email, no reservations@banfi.it, ou telefone, pelos números +39 0577 877 505 or  +39 0577 877 514. Importante dizer que o tour não é feito no castelo, os vinhedos ficam cerca de 8km de lá (a vinícola não fornece transporte).

3) Fattoi
Talvez a grande surpresa da nossa estadia em Montalcino. Localizada cerca de 9km do centro da cidade, é uma propriedade pequena, familiar, sem aqueles superlativos dos grandes. São apenas 9 hectares de vinhedos para Brunello e Rosso e outros 5 para azeites, de onde saem apenas 20 mil garrafas de Brunello e 25 mil de Rosso a cada safra.





Tivemos a sorte de ficar hospedados no agradável Agriturismo La Casella, propriedade da esposa do dono da Fattoi (cerca de 1km de Montacino), o que nos permitiu degustar os vinhos da casa com preços super especiais (€30 por um Brunello Reserva 2003, garrafa de 750ml) e agendar uma visita à vinícola em pleno domingo, algo improvável em Montalcino – as vinícolas recebem os turistas de segunda à sexta, algumas abrem aos sábados, mas nenhuma atende aos domingos.


Coleção de garrafas da casa, com todas as safras produzidas


O Brunello mais antigo da coleção é de 1979

Quem nos recebeu foi a cunhada da dona do La Casella, que prontamente nos levou para um tour privado (e gratuito, diga-se), que visita as principais instalações da fábrica e explica todo o processo de produção, incluindo as duas pequenas máquinas usadas para engarrafar e etiquetar (é uma vinícola pequena, lembra?). A adega mereceu uma pausa bem demorada para as explicações e fotos obrigatórias.


Máquina usada para engarrafar e colocar a rolha - é pequena, mas faz uma garrafa a cada 20 segundos

Ao final do tour, a moça nos ofereceu uma degustação de três rótulos, Brunello safras 2006 e 2007, além de um Reserva 2003, aberto especialmente para a gente. Vale dizer que a degustação foi gratuita – os caras confiam no produto que tem em mãos, tanto é que saí de lá com 3 garrafas compradas. Uma delícia de vinho, uma delícia de passeio. De longe, foi o Brunello que mais gostei, uma pena que não distribuem para o Brasil.

Para agendar visitas, entre em contato com a vinícola no email info@fattoi.it.

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